terça-feira, 18 de outubro de 2016

Os canalhas

Jodhi Segall

Os demônios são mais interessantes que os anjos. Talvez por isto o inferno seja bem mais festivo e aprazível que a bucólica eterna seara celestial. Aliás, a idéia de bondade é fútil tanto no céu quanto na terra, contudo, no inferno produz um grande efeito. Ser bonzinho no inferno é gozar de nenhum preconceito, é poder ser rico sem ser roubado, é poder falar a verdade sem ser punido.

Arquivos JD

O Semeador de Estrelas                          <osemeadordeestrelas.blogspot.com>
E não é por nada que entre o rol das justificativas conspiratórias há o pré-sal
José Dias
Até a “descoberta” das jazidas petrolíferas profundas, amatriz energética brasileira caminhava para um outro rumo: solar e eólica, ainda que a hídrica mantivesse a primazia, por maior desastre que isso - verdadeiramente – signifique!
Até aqui, corruptos e corruptores disputavam cada metro cúbito de concreto a ser injetado e cada hectare de área a ser devastada, pouco importando a quem ou qual dano causassem: os filhos degredados das usinas hidrelétricas brasileiras não entram nas estatísticas dos sem-teto ou sem-terra gerados no seio desenvolvimentista da nação.
Mas não é esta a pior das questões.
O pior é a não geração de energia. Investimentos e danos gigantescos para não se gerar nada. Para resultados esdrúxulos, pífios, ridículos!
Mas, de repente, do nada, pózinho de pirlim-pim-pim: bummm!! Pré-sal!
Ocorre que a exploração de petróleo não é construção de hidrelétrica. Não são os mesmos custos e fatores envolvidos. Mesurar recursos hídricos não se compatibiliza com valorar commodities: estima-se que a jazida brasileira seja valorada em 16 trilhões de dólares.
Destruir a confiança e os instrumentos organizacionais nacionais para a exploração do pré-sal, ou seja: “quebrar” a Petrobrás (detentora de tecnologia de prospecção petrolífera em águas profundas), devastar a indústria da construção civil de base e infraestrutura nacional, entre outros mecanismos de sabotagem e desvalorização acionária e instabilidade político-econômica, são ações que beneficiam as empresas transnacionais interessadas na privatização da Petrobrás.
Um dos desagravos (pasmem!) que justificam a devassa na estatal é o fato da universalização dos royalties por todas as unidades da federação e a destinação destes para a saúde e a educação.
Há muitas dinastias políticas municipais e estaduais muito felizes em promoverem o desenvolvimento social brasileiro, pois não?

José Dias
O Partido dos Trabalhadores encerra, independente dos acontecimentos posteriores ao escabroso e fatídico: 17 de abril de 2016, uma página histórica da política e do desenvolvimento social e econômico nacional.
Na referida data, 367 deputados autorizaram a abertura do processo de impedimento (Lei n° 1079/1950) da presidenta Dilma Rousseff (2011-2014/2015 – 2018 (?) (PT) ), e encaminharam para o Senado, para as devidas deliberações, a mais controversa das traições palacianas já vivenciadas na história brasileira.
Nem mesmo o golpe contra Dom Pedro II (donde afirma-se que a primeira página vergonhosa da fundação da república foi a própria fundação da república!) pode ser comparado aos que se seguiram no decorrer destes parcos 127 anos republicanos.
Porém, as incoerências políticas deste início do século XXI criaram tantas monstruosidades – que puderam ser vistas ao vivo e a cores por toda a nação na supramencionada data – que o mote atemporal: “cada povo tem o governo que merece”, diante de tantas evocativas por Deus e para o bem da família brasileira, tornou-se a concretude que sustenta a verdade, a justiça e a liberdade da nação e seu débil e ignóbil povo, tão bem representado!
As controvérsias são das mais variadas formas e de visões tão caleidoscópicas, que uma investigação aprofundada, balizada e crítica acerca do que ocorreu nas últimas três décadas de redemocratização nacional só será (e se) possível no próximo século. Qualquer que seja a avaliação que se faça hoje, tão contaminadas as fontes (literalmente) e exacerbados os ânimos, que os níveis de pessoalidade e os confrontos de egos não nos permitem um mínimo de confiabilidade ou isenção de juízo de valores.
Mas há de se afirmar que mais do que lemos, vemos e ouvimos, o discreto silêncio respeitoso e o ardil oculto da destreza, neste instante, são a mais valia do poder.
Qualquer economista de bom senso e com o mínimo de conteúdo jamais poderá considerar o governo petista como “socialista” ou voltado, verdadeiramente, para o bem estar social: nunca, e em nenhuma nação cujo suposto apelo populista alcançou tamanho sucesso na implementação de medidas compensatórias na busca por igualdade e equidade social, se pagou tão superfaturadamente por algo que democrática e constitucionalmente seriam apenas cumprimentos efetivos dos direitos civis e deveres do Estado.
Acaso o descalabro desta dita insegurança constitucional e jurídica – e processual, posto que jurisprudência não falta para se atribuir responsabilidades e sanções àqueles que se beneficiam de seu poder e autoridade para deliberadamente cometer dano, denegrir, difamar, vexar a outrem em benefício de si e/ou de terceiros – se confirme, teremos decretado o fim do direito brasileiro em todas as suas varas e instâncias, pois não está em jogo apenas o direito constitucional, mas todo o processo legal que o pôs em xeque.
Mais do que a simplista tese de criminalização do Partido dos Trabalhadores, que é mais do que evidente, pois dos 367 deputados votantes a favor do impedimento, mais de 50% dos deputados são supostos corruptos e corruptores sob investigação e/ou com processo(s) já instaurado(s) no Supremo Tribunal Federal, e, por Deus e pela família brasileira, tendo como ícone – significado e significante – a liderança do presidente da câmara dos deputados (insigne douto, ilustre conviva: Eduardo Cunha), buscam a todo custo o ocultar suas máculas e alcançar divinamente o paraíso da impunidade, é preciso ressaltar que em momento algum da democracia brasileira houve – ainda que recaiam dúvidas sobre os reais interesses envolvidos e os tendenciosos procedimentos “éticos” adotados para o bem da transparência e publicidade – tamanha ação e comprometimento do Ministério Público Federal e seus agentes e instituições afins na busca de provas que forneçam bases para a responsabilização dos danos causados ao erário público.
E esta seria, talvez, a verdadeira traição da pátria realizada pelo PT: cumprir a constituição e respeitar a legalidade e a independência do MPF! Trocou o apoio político do silêncio da corrupta conivência, pela elucidação dos fatos. Diferente de seus predecessores, não há aquela figura prosaica do“engavetador geral da república”.
Segundo estimativas modestas, nacionais e internacionais, a corrupção brasileira gera uma receita líquida de algo entorno de 50 bilhões de dólares anuais. E não é de agora, mas desde sempre! Nada tão simbólico quanto ser umgigante deitado em berço esplêndido.
Há de se avaliar no porvir que apesar de personificarmos os nossos problemas sociais, políticos e econômicos na figura do(a) mandatário(a) do executivo federal, é, em grande parte, na municipalidade e na esfera estadual – verdadeiros currais eleitorais – em que a corrupção se consolida  e torna-se uma etiqueta, um modus vivendi da e para a sustentação do poder local e, consequentemente, regional.
Oriundo dos movimentos sociais e sindicais dos anos de chumbo (1964 – 1984), o Partido dos Trabalhadores, tendo Luis Inácio Lula da Silva como seu maior expoente e translúcida eminência do poder, não conseguiu isentar-se, ora como agente ou ora como vítima, deste modus vivendi.Tanto que para galgar o poder máximo do executivo teve que se aliar aos Sarney e outros neoliberais, mudando o discurso de afrontamento e enfrentamento das questões sociais, políticas e econômicas para o de coalizão, alianças e ajustes, criando uma política de barganha de cargos e orçamentos. E obras... Muitas obras!
Algo muito temerário e arriscado, mas que em uma econômica ascendente passou como se fossem medidas necessárias ao andamento do Projeto de Aceleração do Crescimento – carro chefe das mudanças propostas para o desenvolvimento social e econômico nacional, porém, com a desaceleração da economia mundial, perda de investimentos e queda das commodities, há a retração do mercado e consequente queda de arrecadação, logo, uma vez que a sustentação política para a governabilidade e governança foi embasada na barganha e favorecimentos (lícitos e ilícitos!), cessadas as fontes pagadoras, não havendo com o que mais barganhar, findam-se os acordos de cavalheiros.
As medidas que permitiram um fôlego à economia e inflaram as perspectivas de crescimento real, tais como o aumento da oferta de crédito e a supressão temporária de impostos, na recessão provaram-se um doloroso déficit nas contas públicas. Ainda que se suponha o agravamento deste déficit público por investimentos nos programas sociais (Programa Bolsa Família; Minha Casa Minha Vida; PRONATEC; e Ciência Sem Fronteiras, por exemplo), considera-se uma parcela muito pequena (cerca de dois bilhões de reais) do montante de 70 bilhões de reais, dívida pública estimada em março de 2016, e um dos argumentos para o impedimento.
Contudo, não considerar o motivo para o impendimento como no mínimo insólito, é ser ingênuo. É deixar de perceber que a grande vítima deste descalabro nacional não seja senão o direito constituicional, em primeira instância, posto que o Impeachment[1] (Lei n° 1079/1950) para ser instaurado, tem como premissa a existência de elementos comprobatórios de crime de responsabilidade por parte do chefe do executivo nacional, no caso, a presidenta Dilma Rousseff. Como não há tal circunstância, o que se tem visto e de maneira ostensiva é o uso de um elemento constitucional e legal a serviço da ilegalidade e da injustiça.
Definir como golpe é infantil. Simplista. Pueril. É bem mais do que isto.
[1] Impeachment: Palavra anglo-saxônica que denota o real mandatário da nação e os verdadeiros interesses que estão sendo defendidos por aqueles santos e devotados maridos e esposas; filhos, mães e pais; avôs e avós, insignes deputados e senadores, profundos amantes da pátria. Qual pátria não se sabe!? Mas com certeza, não esta, a qual amo e defendo, chamada Brasil!


SEGUNDA-FEIRA, 18 DE ABRIL DE 2016

17 de abril de 2016: o fim da Nova República brasileira?

José Dias
Para aqueles que se vangloriam, sob as bandeiras do combate a corrupção e por Deus e para o bem da família brasileira, há de se prever a ascensãosine qua non da direita radical e o cataclisma social nacional.
A política de consenso entre a (pseudo) esquerda do Partido dos Trabalhadores e as demais correntes político-partidárias fracassou, não por dicotomias ideológicas, mas por consagrar vícios práticos (políticos, administrativos e jurídicos) remanescentes das corruptas oligarquias que, seculares, governam colonialmente a nação e se prestam ao desgoverno em função de interesses transnacionais.
O futuro próximo afirmará a política de excessão e a instauração de um integralismo neoliberal jamais imaginado ou verificado ao sul do equador.
As conquistas sociais que - entre avanços e retrocessos - consolidaram o mínimo arranjo de garantias individuais e coletivas ao povo brasileiro, e que no governo petista deu especial atenção aos mais pobres, ver-se-ão extintas através da precarização do trabalho, terciarização do trabalho público e privado, achatamento salarial, dessecuritização e privatização da seguridade social, privatização da saúde e, fundamentalmente, sucateamento e privatização da educação, com ênfase às instituições federais de ensino superior.
Não obstante a tal previsibilidade, somar-se-á o silenciamento dos gritos dos excluídos com a execração dos grupos minoritários e suas reivindicações por justiça, igualdade e equidade.
No âmbito da empregabilidade, emprego e renda, veremos a supressão dos direitos trabalhistas e a desoneração integral da folha de pagamento em benefício dos empregadores, sem contrapartida de melhoria salarial, poupança individual ou consolidação de renda do proletariado.
Projetos de transferência de renda e promoção da qualidade de vida serão enterrados sob os escombros de uma democracia que jamais existiu, nem de fato, muito menos de direito.

A reforma agrária natimorta, quimera de mil faces da política nacional, finda sob a ditadura escravocrata e genocida dos coronéis do campo e da cidade: suas grilagens, suas lavras ilegais, seus desmatamentos tão lucrativos, e, principalmente, suas dinastias político-partidárias.
O acirramento das questões agrárias eclodirá sob a bandeira sagrada da justificativa da legalidade e da ordem institucional, levando ao extermínio centenas de famílias campesinas.
A simples hipótese de uma reforma política, territorial e fiscal, institucional, político-partidária e socioeconômica voltada para o bem estar social,por Deus e para o bem da família brasileira, encerra-se aqui. Tanto quanto a renovada velha república.
Enfim, o Projeto Getúlio e seu filho pródigo alcançaram seus objetivos.
Sic transit gloria mundi.

TERÇA-FEIRA, 12 DE ABRIL DE 2016

O país dos golpes

José Dias
O Brasil não é um país sério.  Emblemática, a frase atribuída a De Gaulle toma um ar grandioso diante do momento golpista nacional. Incrivelmente, conseguimos criar uma nova modalidade de golpe, bem mais sofisticado do que aquele que fundou a república e afundou o desenvolvimento nacional: o golpe jurídico-institucional.
Mais que isto, criamos tantos golpes dentro de um golpe, que transparecemos em gigantesca transcendência o muito ou a totalidade da nossa incapacidade democrática e a nossa total subserviência a interesses outros e de outros, que não os pátrios.
Para além da cortina azul celeste ou carmim, que deveriam apenas traduzir o respeito que se tem aos atores sociais, políticos e econômicos que sobem ao palco para representarem papéis que nós, autores de nossa própria história, designamos, há o suposto Estado de fato e de direito.

Ocorre que nem o fato e nem o direito subsistem ao descalabro de uma nação submersa em falácias e imersa na corrupção. Esta, um patrimônio cultural nacional originária da colonização, institucionalizada no império e constitucionalizada na república oligárquica do século XX.
O surpreendente do presente embate midiático entre os poderes da república não são sequer a ilegalidade do impedimento ou a respectiva segurança jurídica e institucional que deveriam ser judiciosos e responsáveis pela integridade da república, não.  
O apavorante são os reais motivos que nos trouxeram ao impaludismo político, cuja alienação, hipocrisia e ignorância são transcritas e proferidas com tal solene leviandade que crê-se que, aqui, no Brasil, somos todos, além de juízes e santos, altamente politizados. Filhos pródigos da história e pais cosmopolitas da geopolítica moderna. Mais que isto: crentes! Justos! Honestíssimos!
A verdade, se é que há alguma, é que em um país analfabeto funcional, o senso crítico equivale ao fragor apaixonado do momento no qual o cidadão apercebe-se, mais que lesado, ignorado para além de sua ignorância. Em uma sociedade estabelecida sobre o ganho a qualquer custo, onde a universalidade de direitos é uma afronta ao monopólio de determinados seguimentos e corporações, o lesa pátria é uma entidade ideológica-política. 
Para aqueles que acreditam que há uma caça aos corruptos e corruptores da pátria, há de se afirmar o ledo engano. 

QUARTA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2016

Sic transit gloria mundi [Brasil revisitado]

Alexander Martin Wash
Brasília, DF, 03 de março de 2016.
Em pleno vapor a falácia vaga por todos os recantos da ignorância humana. Raros são aqueles que se dispõem a buscar a verdade e citar suas fontes com isenção de juízo de valor. Afinal, no mundo imperial, o único coletivo possível – para além daqueles ônibus e trens lotados de carne para o holocausto cotidiano – é o do genocídio consciente.
No entanto, tudo é tratado com tal pessoalidade que vivemos a era das personificações. De modo global e generalista afirma-se que a alteridade entre corruptos e corruptores nada mais é do que a defesa inconteste dostatu quo vigente. Observe-se que a expressão latina ressalta que ante bellum.
E é este antes da guerra que nos revela a transitoriedade da vida humana, sua impermanência. Todas as coisas relativas ao humano são deveras finitas. Menos a sua ignorância e a inacreditável capacidade de cometer asneiras, o que soa mais como ofensa ao asno do que crítica ao bípede depenado.
Absurdamente, vivenciamos o contraditório no contradito e no contrafeito, ou seja, apesar de transparecer que há esta contradição, na verdade ela é a sustentação do oposto inexistente, pois trata-se de um mesmo ente. E,embasado na fé cristã: nenhum reino sobrevive dividido. Logo, como a ética depende de anseios, valores e princípios comuns, não há crise alguma entre quem quer que seja. O que temos são singularidades.      
Neste sentido, surge o óbvio para afirmar o senso comum e a retórica para – diplomaticamente - refutá-lo. A dialética, uma estética romanceada da episteme, renasce das cinzas da paixão que tanto condena. E toma-se, por fim, o engodo por verdade, e todos os iludidos viverão felizes para sempre em sua mais completa subserviente obsolescência.
Gritam aos quatro ventos: Sic transit gloria mundi. E dizemos amém.


SEGUNDA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2015

Lua Azul

Jodhi Segall
A lua brilha
Na imensidão do olhar apaixonado
Dizendo a cada qual
Que distâncias não são negociáveis

Avisa, sorrateira, que a discrição
É o sal da vida e o sol do amor

Não maltrate as borboletas
Com a cacofonia das tempestades
Não exponha as orquídeas
Aos ventos nem ao sol do meio dia

É no silencioso segredo das horas
Em que a presença se faz eterna

E, então, percebemos
Que o amor nos aprimora
Na alegria e no riso
Nosso de cada dia

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Revisitando o abismo de si mesmo
Dias, José Sebastião Galdino

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa

Memórias são, em sua maioria, reconstruções do passado que, com o auxílio de circunstâncias e dados materiais e imateriais do presente, somam-se às diversas reconstruções realizadas no decorrer da formação histórica, sociológica e autobiográfica do sujeito.
Por ser um presente pretérito, nelas adicionamos e subtraímos fatos e imagens segundo a conveniência ou relevância própria.
O que no agora consideramos lembranças, vêem-se adulteradas pelo tempo e curso de cada ator, onde ca-da qual, segundo seu papel, valor, importância, em ambos lugares comuns: ontem e hoje, as expressam a partir dos reflexos ressentidos, resiliências ou re- miniscências desse passado, por si descrito.
Em todos os casos, as lembranças existem, e, recriadas ou não, fundamentadas em concretudes ou não, constituem-se em propósitos para que sejamos sempre bem melhores do que elas!
É um lugar que se visita, mas cuja morada não é permitida. É apenas um farol, para os navegantes do futuro, iluminando o presente de cada um.

José Sebastião Galdino Dias

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Lições Marianas

Lições Marianas
Thiago Arcanjo Augusto Madeira Leão
Inferno são os outros
JPSartre

No calor das chamas incendiárias nada há que não seja desespero, angústia e medo. A fumaça espessa e escura, tóxica e letal provoca a morte súbita de milhares de pessoas, posto que não apenas aqueles que fisicamente nos deixaram, morreram. Em sua maioria, jovens entre 14 e 25 anos. Nesta tragédia, não há sobreviventes. Santa Maria é uma cidade querida. Há muito de mim e dos meus nestes prados em que outrora apaixonadamente cresci. Santa Maria é uma cidade emblemática na cultura farroupilha e mãe do desenvolvimento agrário riograndense. Uma das pioneiras na construção do conceito de cidade universitária, produtora e exportadora de ciência, tecnologia e inovação; uma cidade militar e estratégica na defesa do território brasileiro; uma cidade média, mas cujo comprometimento civil difere-se da grande maioria, ofertando ao Brasil e ao mundo uma infindável lista de homens e mulheres públicos de renome e profissionais cuja excelência é por todos enaltecida. O Rio Grande do Sul é um Estado diferente dos demais. Sua contribuição histórica sempre nos direciona a questionamentos que vão para além do capital, da educação, da saúde e da economia. Fora a dita revolução Farroupilha, nos momentos cruciais da ingerência política nacional, a bandeira e o hino gaucho sempre se posicionaram na ponta de vanguarda da nação, ora conduzindo com firmeza o desbravamento de novas fronteiras, ora expondo-se com destemor ao fogo inimigo em razão de um bem maior: a construção de um país justo, livre, soberano. Pode-se afirmar que São Paulo é o coração da economia nacional; que o Distrito Federal é o estômago; que Minas Gerais é a garganta; mas o Rio Grande do Sul sempre será a dorsal que a todos une e como sólidos pés seguros os sustenta na temperança, no labor silencioso e discreto, na humildade orgulhosa de sua família tradicional e nos modos e coisas não pecuniárias, que transcendem o senso comum e fazem dos trigais, vinhedos e estâncias  um esplendor divino de gratidão ao passado e esperança no porvir. Santa Maria chora seus filhos pueris e inocentes mortos. Não os pranteia sozinha. Uma pátria inteira e universal chora consigo. Contudo, mais uma vez e lugar comum, aprende-se mais com a tragédia colossal do que com os diários de amor e harmonia. Infelizmente, a dor da perda irreparável nos traz ao olhar desencantado sobre nós mesmos e a sociedade que – em atos, palavras e omissões – construímos. Uma nação atônita é obrigada a ajoelhar-se diante de Santa Maria e refletir sobre os rumos que doravante tomará. Não cabem críticas ao acrítico. Não há como dotar de dolo aquilo cuja responsabilidade é de toda uma nação. Cada brasileiro é diretamente culposo por descalabros como este. Somos nós, indivíduo e coletividade, que nos proporcionamos este espetáculo midiático cotidiano realizado em horrores e impunidades, em corrupção e descaso. Antes fosse um caso isolado. Mas não. Pelas inundações e suas vítimas; pelos naufrágios e seus náufragos; pelos homicídios fúteis e diários; pelos motoristas bêbados; pelos traficantes e seus drogados; pelos nossos idosos espancados, explorados e abandonados à revelia do destino; pelas nossas crianças destituídas de presente; pelos nossos sem teto; pelos nossos sem terra; pelos nossos sem saúde, educação, família; pela nação sem hino, bandeira, ou causa; pelos sem Estado, rogai por nós, Santa Maria!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Escuridão e As Nozes (5 Grandes Peças)

A Escuridão e As Nozes
Jodhi Segall


É assim: a escuridão e as nozes.Mas sinto a falta dos momentos
- raros, parcos, curtos, oblíquos, integrais –
onde o amor se fez presente,
onde olhar foi coerente com discurso.
O curso,
onde as mãos
(ainda que envergonhadas e tímidas)
lapidaram o buril e afagaram a rosa;
onde os ombros ladeados partilharam o tempo e
suportaram o látego de toda a escuridão.

Iluminamos: sempre iluminados somos.

Um dia partimos.
E nos perguntamos sobre buracos negros
e super-novas...

Olhamos para o campo e perguntamos: onde as flores semeadas?
Caminhamos pela cidade e verificamos nossos fragmentos
diluídos por entre mutilados e impérios.

Impropérios. Sempre proferimos impropérios...
Mas nada é sério demais para se levar para o túmulo.
Talvez o riso de alguém que amamos.
Ainda que a renúncia seja um cárcere, ou
a liberdade, escravidão.

Autocaricato
Vou verificando, aos poucos, minhas fealdades.
Vou me adonando de meu poço raso, semi-árido.
Salobra as águas deste fundo.

Rascante este vinho acre, acético,
fermentado ao excesso, não sorvido em seu tempo bom.
Deixado ao léu, sob véus e mantos e às moscas.

Imagens estranhas me estremecem.
Lembranças de ameaças contínuas.
De rivalidades absurdas, abstratas, invisíveis, mas concretas.
Pavimentadas.

Organizando meus últimos trabalhos
(se é que posso de chamá-los meus...),
encontrei suas cartas.
Alguns poemas seus.
Alguns nossos.
Quase todos ossos.
Nenhum ócio, apenas ofícios...
Ou pedidos extremados de socorro
inaudíveis.

Cego, tateei o Braile das estrelas
em busca de chão.

No sem perdão ou Deus que o valha,
restou-me este mediocre ser que
não é homem
nem inconfidência.

-=-

Clave de Sol
Jodhi Segall




Epopéia.

Coxas entrelaçadas nas labaredas
do céu.

Espera na busca do delírio:
suor
melodia
e ego.

Curas.

Revela pensante o animal: amante.

Usa-me.

-=-

O Corpo
Jodhi Segall


Masculino este meu corpo se heterogeniza, sexualiza,
revela e muta, descarna: deságua em feminino absoluto.

Fundidos, atados, corpo e alma solidificam:
unificam, purificam, autenticam.

Masculino, este meu corpo se rebela à mera função de macho
reprodutor,
consumidor de fêmeas,
de primata.

Minha alma feminina o guia e protege e ilumina;
ousa em asas, afirma: ascende rasgada, dissecada;
exposta, nada priva.

Livre, meu masculino corpo se dilui...
Ama, entrega: integra, desintegra, marca.

Semeia e segue.
-=-

O Dadivoso
Jodhi Segall



Desculpa-me amor
Se me atraso
Tudo em nós é fundo
E raso
O apressar do tempo
Não podemos
Aguarda em tuas
Revoluções
Em evoluções
Vou-me em entregas
Absolutas
Nada tema amor
Simplesmente
Ama.

-=-

Shangrilah Paradise Motel
Jodhi Segall



Seguir. É assim que fazemos.
Paixão é melhor, nada de posses,
de algemas, de castros.

Nada de mitos, de ritos.
Laços afins, só, mais nada.
Sem dó, sem ré. Só mi.

Seguir. Foi assim que aprendemos.
Cuidamos, protegemos. Marcamos nossos
territórios: nada de ciúmes, sem cobranças
nem horários nem esperanças.
Sem fusos.
Assim é simples, maneiro, leve.
Casual. Nada de confusos.
Uma emoçãozinha aqui, outra ali.
Sexo intelectual, entende?
Sem aquele ficou, marcou, feriu, sangrou
E seguiu.
Seguir é assim que fazemos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vilões


Criei o blog há um tempo e até hoje apenas meus colaboradores (amigos)  escreveram nele... Preguiça minha, não, é que o pessoal que escreve é muito bom. Eu fico até com vergonha, mais a idéia é essa: pensamento livre. E pensamento livre não existe fronteiras, nem se envergonha de nada, certo? Mais vamos as minhas observações: Eu gosto dos vilões, sabe aquela pessoa que ninguém gosta que todos a acham antipática, aquela que vez ou outra está envolvida em alguma situação que sempre a colocam como errada. Sabe o bom dessa pessoa? Ela não inveja ninguém e não é refém de ninguém. Ela sofre? Sofre, talvez até mais que imaginemos, mas ela sofre calada perto dos seus e não demonstra fraqueza para um monte de abutre. Eu já vivi um pouquinho também e vi nesses anos muito teatro de autoflagelação, mas nunca vi um vilão fazer isso. Vilões sabem dar o seu show e sempre contam com o apoio dos imparciais. A maioria discorda, mas faz parte da sua sina, ele não nasceu pra agradar a todos. Uma coisa bacana dos vilões é a sua inteligência, eles sempre estão um passo adiante, sabem ver o que ninguém mais vê e por isso quando que por conveniências, seguem o caminho da boiada, escapa ileso dos possíveis e prováveis erros destes. O vilão perdoa de coração, dá de coração, o bonzinho não... O bonzinho faz tudo com segundas intenções... A grande verdade é que o vilão é fabricado pelos bonzinhos e quer maldade pior que essa, condenar uma pessoa a ser detestada pela boiada... É chato! Por várias vezes já fui o vilão da história e venci em “quase” todas e o tempo me provou que eu estava certo em quase todas também. Quer dizer o vilão erra? Erra e erra feio, talvez por isso sejam tão humanos e apaixonantes. Pra terminar lembro de um pensamento de um cara que era vilão para alguns e santo para outros: Não o que perdoar pois ninguem nunca me ofendeu.