terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Escuridão e As Nozes (5 Grandes Peças)

A Escuridão e As Nozes
Jodhi Segall


É assim: a escuridão e as nozes.Mas sinto a falta dos momentos
- raros, parcos, curtos, oblíquos, integrais –
onde o amor se fez presente,
onde olhar foi coerente com discurso.
O curso,
onde as mãos
(ainda que envergonhadas e tímidas)
lapidaram o buril e afagaram a rosa;
onde os ombros ladeados partilharam o tempo e
suportaram o látego de toda a escuridão.

Iluminamos: sempre iluminados somos.

Um dia partimos.
E nos perguntamos sobre buracos negros
e super-novas...

Olhamos para o campo e perguntamos: onde as flores semeadas?
Caminhamos pela cidade e verificamos nossos fragmentos
diluídos por entre mutilados e impérios.

Impropérios. Sempre proferimos impropérios...
Mas nada é sério demais para se levar para o túmulo.
Talvez o riso de alguém que amamos.
Ainda que a renúncia seja um cárcere, ou
a liberdade, escravidão.

Autocaricato
Vou verificando, aos poucos, minhas fealdades.
Vou me adonando de meu poço raso, semi-árido.
Salobra as águas deste fundo.

Rascante este vinho acre, acético,
fermentado ao excesso, não sorvido em seu tempo bom.
Deixado ao léu, sob véus e mantos e às moscas.

Imagens estranhas me estremecem.
Lembranças de ameaças contínuas.
De rivalidades absurdas, abstratas, invisíveis, mas concretas.
Pavimentadas.

Organizando meus últimos trabalhos
(se é que posso de chamá-los meus...),
encontrei suas cartas.
Alguns poemas seus.
Alguns nossos.
Quase todos ossos.
Nenhum ócio, apenas ofícios...
Ou pedidos extremados de socorro
inaudíveis.

Cego, tateei o Braile das estrelas
em busca de chão.

No sem perdão ou Deus que o valha,
restou-me este mediocre ser que
não é homem
nem inconfidência.

-=-

Clave de Sol
Jodhi Segall




Epopéia.

Coxas entrelaçadas nas labaredas
do céu.

Espera na busca do delírio:
suor
melodia
e ego.

Curas.

Revela pensante o animal: amante.

Usa-me.

-=-

O Corpo
Jodhi Segall


Masculino este meu corpo se heterogeniza, sexualiza,
revela e muta, descarna: deságua em feminino absoluto.

Fundidos, atados, corpo e alma solidificam:
unificam, purificam, autenticam.

Masculino, este meu corpo se rebela à mera função de macho
reprodutor,
consumidor de fêmeas,
de primata.

Minha alma feminina o guia e protege e ilumina;
ousa em asas, afirma: ascende rasgada, dissecada;
exposta, nada priva.

Livre, meu masculino corpo se dilui...
Ama, entrega: integra, desintegra, marca.

Semeia e segue.
-=-

O Dadivoso
Jodhi Segall



Desculpa-me amor
Se me atraso
Tudo em nós é fundo
E raso
O apressar do tempo
Não podemos
Aguarda em tuas
Revoluções
Em evoluções
Vou-me em entregas
Absolutas
Nada tema amor
Simplesmente
Ama.

-=-

Shangrilah Paradise Motel
Jodhi Segall



Seguir. É assim que fazemos.
Paixão é melhor, nada de posses,
de algemas, de castros.

Nada de mitos, de ritos.
Laços afins, só, mais nada.
Sem dó, sem ré. Só mi.

Seguir. Foi assim que aprendemos.
Cuidamos, protegemos. Marcamos nossos
territórios: nada de ciúmes, sem cobranças
nem horários nem esperanças.
Sem fusos.
Assim é simples, maneiro, leve.
Casual. Nada de confusos.
Uma emoçãozinha aqui, outra ali.
Sexo intelectual, entende?
Sem aquele ficou, marcou, feriu, sangrou
E seguiu.
Seguir é assim que fazemos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vilões


Criei o blog há um tempo e até hoje apenas meus colaboradores (amigos)  escreveram nele... Preguiça minha, não, é que o pessoal que escreve é muito bom. Eu fico até com vergonha, mais a idéia é essa: pensamento livre. E pensamento livre não existe fronteiras, nem se envergonha de nada, certo? Mais vamos as minhas observações: Eu gosto dos vilões, sabe aquela pessoa que ninguém gosta que todos a acham antipática, aquela que vez ou outra está envolvida em alguma situação que sempre a colocam como errada. Sabe o bom dessa pessoa? Ela não inveja ninguém e não é refém de ninguém. Ela sofre? Sofre, talvez até mais que imaginemos, mas ela sofre calada perto dos seus e não demonstra fraqueza para um monte de abutre. Eu já vivi um pouquinho também e vi nesses anos muito teatro de autoflagelação, mas nunca vi um vilão fazer isso. Vilões sabem dar o seu show e sempre contam com o apoio dos imparciais. A maioria discorda, mas faz parte da sua sina, ele não nasceu pra agradar a todos. Uma coisa bacana dos vilões é a sua inteligência, eles sempre estão um passo adiante, sabem ver o que ninguém mais vê e por isso quando que por conveniências, seguem o caminho da boiada, escapa ileso dos possíveis e prováveis erros destes. O vilão perdoa de coração, dá de coração, o bonzinho não... O bonzinho faz tudo com segundas intenções... A grande verdade é que o vilão é fabricado pelos bonzinhos e quer maldade pior que essa, condenar uma pessoa a ser detestada pela boiada... É chato! Por várias vezes já fui o vilão da história e venci em “quase” todas e o tempo me provou que eu estava certo em quase todas também. Quer dizer o vilão erra? Erra e erra feio, talvez por isso sejam tão humanos e apaixonantes. Pra terminar lembro de um pensamento de um cara que era vilão para alguns e santo para outros: Não o que perdoar pois ninguem nunca me ofendeu.





O buraco negro - fragmentos do ocaso de uma vida

Jodhi Segall


A grandiosidade de ser contrapõe-se ao pragmatismo do possuir. Não se trata de comprar, adquirir tudo o que se deseja, nem conquistar com presentes, agrados e simpatias a afeição e o respeito de outrem.
Amor, carinho e afeição são frutos da convivência e da partilha, da admiração e do respeito.
Afaste de sua vida todo aquele que não participa contigo da realização de um dia melhor. São vampiros. Destruirão tudo o que há de bom em ti. São invejosos, pois nada possuem senão um vazio que não pode ser preenchido. Sugarão todas as suas energias. Por fim, quando nada mais sobrar de ti, senão a mais profunda debilidade, tua nulidade em face as realizações pessoais e conjuntas te provarão inútil e incompetente diante de ti próprio. O invejoso terá alcançado seu intento: nada mais há em ti que o interesse, e tu, fragilizado, serás desprezado por todos.